sexta-feira, 27 de março de 2015

Como lidar com as regras e a criança pequena

A relação das crianças pequenas com as regras

Por Daniela Munerato
… É término de uma atividade e a professora pede aos alunos que a ajudem a guardar os brinquedos para que possam organizar a sala, pois o momento da pintura se aproxima. Inicia a tarefa e é seguida pelos pequenos que fazem o mesmo percurso pela sala, não tiram os olhos da professora, imitam o que ela diz, fingindo brincar de piratas que guardam tesouros…
A oportunidade de estar na escola favorece à criança situações diferentes do contexto de suas casas. Aprendem a conviver num espaço coletivo, do qual se apropriam conforme o vínculo e a adaptação acontecem. Neste espaço, progressivamente, compreendem que existem organizações importantes para que se sintam seguros e consigam interagir de forma tranquila, considerando diferenças. A escola representa a sociedade para nossos pequenos aprendizes, e o trabalho de apropriação das regras faz parte do processo de aprendizagens de atitudes e valores que os alunos vão passar ao longo da escolaridade.
A partir do breve relato que inicia este texto, podemos imaginar o motivo que faz com que as crianças nesta e em muitas outras situações da rotina cumpram regras que organizam seu cotidiano, inseridas numa regularidade que conforta e permite antecipar o que vai acontecer. Observamos que a professora pede que os alunos ajudem sem discutir ou abrir uma possibilidade de escolha de fazer ou não a tarefa. Pode completar seu pedido com informações que os auxiliem a construir conceitos, como dizer que precisamos organizar o espaço para a próxima atividade, que os brinquedos são de todos e precisamos cuidar deles, que as crianças juntas guardam rapidamente e que ela conta com a participação de todos. As crianças compreendem a importância da ação de cada um, seu papel no grupo e o valor das regras no dia a dia e com o tempo. No início, só desejam ajudar um adulto que representa segurança, por quem se vincularam e desejam retribuir a afetividade. Obedecem inicialmente por uma relação de amor e pelo medo de perdê-lo, não desejando o descontentamento do professor.
O papel do adulto é fundamental, guiando a criança, numa fase do ponto de vista da moralidade nomeada pelo autor Jean Piaget como heterônoma. A criança precisa do adulto para saber o que é esperado que ela faça, explicitando expectativas, revelando direitos e deveres para conduzi-lo da melhor forma, mas sem fazer por ele. Este é o caminho da autonomia moral, para que um dia saibam escolher com responsabilidade. Por essa razão, nesta fase do desenvolvimento o limite é tão importante. Para o adulto, a regra precisa ser clara, derivada de um princípio que a sustenta. Para a criança pequena, inicialmente, é algo que deve cumprir, sobre a qual aos poucos conseguirá compreender, para que um dia possa olhá-la de forma mais contextualizada.
Mas nem sempre a criança cumpre a regra, deseja testar se o adulto mantém sua palavra após um desafio posto, tenta inventá-la ou modificá-la em favor de seus desejos e, nesses momentos, a postura do adulto é o suporte para que a criança saiba elaborar sentimentos importantes que, como escreve o autor Yves de La Taille, servirão como um cimento afetivo na construção da moralidade, como a confiança (modelo do adulto que faz o que diz), a vergonha (freio moral) e a empatia (colocar-se no lugar do outro), por exemplo.
Isso posto, ressaltamos o quão importante é a tarefa do responsável, pois, ao respeitar horários de entrada e saída, não permitir que seu filho ou sua filha utilize o brinquedão quando não for o horário, bem como estar atento às autorizações de saída para que elas aconteçam tranquilamente, comunica seu respeito às regras do espaço escolar, atitudes essas extremamente importantes para a formação moral dos pequenos.
Vale lembrarmos aqui que regras e combinados são diferentes. As regras vêm de princípios e devem ser respeitadas e cumpridas, diferentes dos combinados, que são muito mais flexíveis e podem ser alterados. Na escola, temos as duas situações, podemos combinar uma brincadeira desejada, um jogo diferente, um local não explorado para tomar lanche, mas não combinamos ou discutimos, por exemplo, se devemos ter respeito com as pessoas com as quais convivemos: afirmamos que sim, esperamos que isso aconteça e trabalhamos com ações que causem reflexões importantes e fundamentem as nossas ações.
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